🧭 Orientação Cognitiva: Saúde Mental e Reabilitação
Por Juliana Galhardi Martins – Psicóloga & Neuropsicóloga – CRP 06/76313
O que é Orientação Cognitiva?
A orientação é a capacidade do ser humano de se situar no tempo, no espaço, em relação a si mesmo e ao contexto. Engloba quatro dimensões:
- Orientação temporal: reconhecer o dia, mês, ano e a passagem do tempo.
- Orientação espacial: saber onde se encontra (cidade, ambiente físico, casa, hospital).
- Orientação pessoal: lembrar da própria identidade (nome, idade, dados pessoais).
- Orientação situacional: compreender o que está acontecendo no momento (consulta, evento, hospitalização).
Alterações nessas áreas podem sinalizar desde quadros transitórios até doenças neurocognitivas graves. A avaliação é feita em exames como o Mini Exame do Estado Mental (MEEM), a Avaliação Neuropsicológica e baterias como a WAIS-III e WAIS-IV.
Exemplo de Patologias Relacionadas à Desorientação
- Transtornos Neurocognitivos (Demências)
📌 CID-10: F00 (Demência na Doença de Alzheimer), F01 (Demência vascular), F03 (Demência não especificada).
📌 CID-11: 6D80 (Transtornos neurocognitivos maiores).
📌 DSM-5-TR: Transtornos neurocognitivos maiores e leves.
➡ A desorientação temporal é sintoma precoce, evoluindo para falhas espaciais e situacionais. - Delirium
📌 CID-10: F05 (Delirium não induzido por álcool ou substâncias).
📌 CID-11: 6D70 (Delirium).
📌 DSM-5-TR: Delirium por alteração aguda da atenção e consciência.
➡ Desorientação aguda, flutuante, comum em ambientes hospitalares. - Esquizofrenia e Transtornos Psicóticos
📌 CID-10: F20 (Esquizofrenia), F23 (Psicoses agudas e transitórias).
📌 CID-11: 6A20 (Espectro da esquizofrenia e transtornos psicóticos primários).
📌 DSM-5-TR: Espectro da esquizofrenia.
➡ Desorientação situacional pode ocorrer em episódios psicóticos graves. - Transtornos Depressivos Graves
📌 CID-10: F32.3 (Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos).
📌 CID-11: 6A70.3 (Episódio depressivo maior com sintomas psicóticos).
📌 DSM-5-TR: Episódio depressivo maior com características psicóticas.
➡ Pode gerar desorientação situacional em estados de lentificação extrema. - Transtornos Dissociativos
📌 CID-10: F44 (Transtornos dissociativos).
📌 CID-11: 6B60 (Transtornos dissociativos).
📌 DSM-5-TR: Amnésia dissociativa, despersonalização e desrealização.
➡ Episódios transitórios de desorientação quanto à realidade e identidade. - Transtorno do Espectro Autista (TEA)
📌 CID-10: F84.0 (Autismo infantil), F84.5 (Síndrome de Asperger).
📌 CID-11: 6A02 (Transtorno do espectro do autismo).
📌 DSM-5-TR: Transtorno do espectro do autismo.
➡ Podem apresentar desorientação situacional em contextos sociais complexos. - Transtornos de Ansiedade e Estresse Pós-Traumático
📌 CID-10: F41 (Transtornos ansiosos), F43.1 (TEPT).
📌 CID-11: 6B00 (Transtorno de ansiedade generalizada), 6B40 (TEPT).
📌 DSM-5-TR: Ansiedade generalizada e TEPT.
➡ Crises de pânico e flashbacks traumáticos podem gerar desorientação situacional.
Impactos da Desorientação ao Longo da Vida
- Crianças: atraso no desenvolvimento cognitivo e dificuldades escolares.
- Adolescentes: prejuízos na autonomia escolar e social.
- Jovens: queda de desempenho acadêmico e profissional.
- Adultos: sintomas em depressão grave, ansiedade ou psicoses.
- Idosos: desorientação temporal e espacial é marcador precoce de demência.
Estratégias de Reabilitação Cognitiva
- Treino temporal: uso de calendários, agendas e relógios digitais.
- Treino espacial: exercícios de localização, mapas e jogos de realidade virtual.
- Treino pessoal: práticas de memória autobiográfica e narrativas.
- Treino situacional: simulações, role-playing e atividades digitais.
- Tecnologia digital: aplicativos adaptados para idosos e pessoas com TEA.
- Psicoterapia cognitiva: psicoeducação, treino de funções executivas e suporte emocional.
Benefícios da Reabilitação da Orientação
- Maior autonomia nas atividades diárias.
- Prevenção de acidentes e perdas.
- Melhora da autoestima e segurança pessoal.
- Prevenção de agravamentos de transtornos cognitivos.
- Inclusão social em TEA, TDAH e esquizofrenia.
- Apoio no envelhecimento saudável.
Conclusão
A orientação cognitiva é a base da consciência. Seu comprometimento pode indicar desde quadros transitórios até doenças neurocognitivas graves. Felizmente, estratégias de reabilitação demonstram eficácia em restaurar ou compensar déficits, garantindo qualidade de vida, inclusão e autonomia.
📚 Referências Bibliográficas
- American Psychiatric Association. (2022). DSM-5-TR: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5ª edição revisada. Porto Alegre: Artmed.
- Organização Mundial da Saúde (OMS). (2018). CID-11: Classificação Internacional de Doenças. Genebra: OMS.
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- Malloy-Diniz, L. F., Fuentes, D., Mattos, P., & Abreu, N. (2010). Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed.
- Fuentes, D. (2014). Neuropsicologia: Teoria e Prática. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed.
- Wechsler, D. (2004). WAIS-III: Escala de Inteligência Wechsler para Adultos – Manual Técnico. São Paulo: Casa do Psicólogo.
- Diniz, L. F. M., & Abreu, N. (2011). Neuropsicologia Geriátrica. Porto Alegre: Artmed.