Neuropsicologia através das cores – A casa

🏡 Pinte a Casa dos Sonhos

Juliana Galhardi Martins – Psicóloga & Neuropsicóloga
CRP 06/76313

A Neuropsicologia, os Desenhos Projetivos, as Cores e o Significado da Casa

A neuropsicologia, enquanto ciência interdisciplinar, investiga a relação entre o funcionamento cerebral e o comportamento humano. No contexto clínico e educacional, busca entender como funções cognitivas — atenção, memória, linguagem, funções executivas, percepção, emoção — se expressam e se alteram em diferentes condições do desenvolvimento, da aprendizagem e da saúde mental.

Desenhos Projetivos: Acesso ao Universo Interno

Os desenhos projetivos são ferramentas expressivas utilizadas há décadas na avaliação neuropsicológica, psicológica e educacional. Diferentemente dos testes psicométricos tradicionais, que avaliam desempenho objetivo, os métodos projetivos acessam aspectos subjetivos, emocionais e simbólicos do sujeito. Segundo Hammer (1999), ao desenhar, o indivíduo revela, muitas vezes de forma inconsciente, conteúdos de sua história, padrões de relacionamento, estratégias de enfrentamento e elementos do funcionamento cognitivo e emocional【1】.

No âmbito da neuropsicologia, o desenho projetivo é também um recurso sensível para observar:

  • Coordenação motora fina e visuoconstrução

  • Planejamento e sequenciamento

  • Organização espacial

  • Simbolização e expressão emocional

Cores: Neurociência, Emoção e Comunicação Não Verbal

As cores utilizadas nos desenhos não são escolhas aleatórias. A literatura neurocientífica aponta que as cores ativam circuitos corticais específicos relacionados à emoção, atenção e memória【2】. Por exemplo, tons quentes (vermelho, amarelo) tendem a ser associados a energia, excitação, vitalidade, enquanto tons frios (azul, verde) evocam calma, segurança, introspecção. A escolha, a intensidade, a variedade e a ausência de cores podem refletir tanto estados emocionais quanto padrões cognitivos, humor, criatividade e até quadros de apatia, depressão ou ansiedade (Küller et al., 2009).

Além disso, o uso de cores pode indicar:

  • Capacidade de diferenciação perceptual

  • Organização mental e flexibilidade cognitiva

  • Aspectos do funcionamento afetivo e social

A Casa como Símbolo: Função Psicológica e Diagnóstica

No campo dos testes projetivos (por exemplo, o Desenho da Casa, da Figura Humana ou da Árvore), a casa possui um papel simbólico central. É universalmente associada à noção de abrigo, proteção, identidade e pertencimento. Winnicott (1971) descreve a casa como a primeira representação gráfica do “eu” em desenvolvimento: um espaço onde o sujeito organiza o interno e o externo, o seguro e o ameaçador, a autonomia e o vínculo【3】.

Analisar o desenho de uma casa, sob olhar neuropsicológico e projetivo, permite investigar:

  • Aspectos da autoimagem e do senso de segurança

  • Relações familiares e sociais

  • Capacidade de planejamento e organização (presença de portas, janelas, telhado, base)

  • Reconhecimento de detalhes, simetria e estrutura

  • Processos de simbolização, criatividade e expressão emocional

O modo como a casa é desenhada (tamanho, proporção, presença/ausência de elementos, cores utilizadas, localização no papel) pode indicar padrões típicos do desenvolvimento infantil, maturidade emocional, possíveis traços de retraimento, agressividade, dependência, autonomia, e até quadros de desorganização cognitiva ou alterações neuropsicológicas (Machover, 1949; Nakano & Primi, 2015).

Aplicações Clínicas e Terapêuticas

Em avaliação neuropsicológica, o uso do desenho da casa — sobretudo quando integrado a protocolos mais amplos — auxilia:

  • Na identificação de alterações em quadros neurológicos, psiquiátricos e do desenvolvimento

  • No acompanhamento de reabilitação cognitiva e emocional

  • Na observação da evolução de pacientes em contextos escolares, clínicos e hospitalares

  • No engajamento lúdico e acolhedor de crianças, idosos e pessoas com dificuldades de comunicação verbal

Além do valor diagnóstico, o ato de desenhar e colorir a casa promove relaxamento, autorregulação emocional, estimula funções executivas (planejamento, organização, controle inibitório) e potencializa a expressão simbólica, sendo recomendado como ferramenta terapêutica, educativa e de autoconhecimento.


Referências

  1. Hammer, E.F. (1999). The Clinical Applications of Projective Drawings. Charles C Thomas Publisher.

  2. Küller, R., Ballal, S., Laike, T., Mikellides, B., & Tonello, G. (2006). The impact of light and colour on psychological mood: A cross-cultural study of indoor work environments. Ergonomics, 49(14), 1496–1507.

  3. Winnicott, D. W. (1971). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago.

  4. Machover, K. (1949). Personality Projection in the Drawing of the Human Figure: A Method of Personality Investigation. Charles C Thomas Publisher.

  5. Nakano, T. C., & Primi, R. (2015). Avaliação das habilidades cognitivas por meio de desenhos projetivos: contribuições e limites. Psicologia: Reflexão e Crítica, 28(1), 93-101.

JULIANA GALHARDI MARTINS
PSICÓLOGA & NEUROPSICÓLOGA
CRP 06/76313
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