🌸 Pinte & Relaxe – Flor Simples
Escolha uma cor e clique nas pétalas ou folhas para pintar.
Atividade desenvolvida por
Juliana Galhardi Martins
Psicóloga & Neuropsicóloga – CRP 06/76313
Colorir e pintar são atividades frequentemente associadas ao universo infantil, mas seus benefícios se estendem a todas as idades, especialmente crianças e idosos. Sob o olhar da neuropsicologia, essas práticas são muito mais do que simples passatempos: elas promovem o desenvolvimento e a reabilitação de funções cognitivas essenciais, facilitam o relaxamento e potencializam a saúde mental.
1. Colorir como Estratégia de Relaxamento e Redução do Estresse
Colorir favorece o estado de atenção plena (mindfulness), pois exige foco no presente, desconectando o indivíduo de preocupações externas. Estudos demonstram que atividades artísticas repetitivas, como colorir, diminuem a frequência cardíaca, reduzem níveis de cortisol (hormônio do estresse) e promovem sensação de calma, semelhante ao efeito observado em práticas meditativas【1】. O ato de escolher cores e preencher áreas do desenho ativa circuitos cerebrais ligados ao prazer e à regulação emocional.
2. Estímulo das Funções Cognitivas
Ao colorir, diferentes áreas do cérebro são ativadas simultaneamente:
Atenção Sustentada: É preciso manter o foco por períodos prolongados para concluir a atividade, fortalecendo a capacidade de concentração.
Percepção Visual: O cérebro processa formas, contornos, espaços e detalhes, promovendo a discriminação visual e a integração visuoespacial.
Planejamento e Sequenciamento: Decidir por onde começar, escolher cores e organizar a sequência de preenchimento são tarefas que treinam a capacidade de planejamento, antecipação e controle inibitório (esperar para não “pular etapas”).
Coordenação Motora Fina: Segurar lápis ou manipular ferramentas digitais desenvolve precisão motora, importante em todas as fases da vida.
3. Funções Executivas e Flexibilidade Cognitiva
Funções executivas referem-se a processos mentais como planejamento, autocontrole, tomada de decisão, organização e flexibilidade cognitiva. Colorir exige:
Inibição: Controlar impulsos, não sair do contorno, respeitar limites.
Flexibilidade: Trocar de cor, mudar de estratégia diante de dificuldades, adaptar-se ao espaço disponível.
Memória Operacional: Lembrar das escolhas anteriores para manter harmonia e coerência no desenho.
Resolução de Problemas: Lidar com áreas difíceis, corrigir “erros” ou decidir o que fazer quando há limitações no material ou no desenho.
Essas habilidades são treinadas de maneira lúdica e prazerosa, sendo especialmente úteis na estimulação cognitiva de idosos, pessoas com lesões cerebrais, TDAH, TEA e outras condições neuropsicológicas【2】.
4. Benefícios para Memória e Processamento Visual
A memória visual é constantemente acionada ao colorir, pois é necessário lembrar padrões, cores usadas e partes já preenchidas. O treino visual-motor fortalece circuitos neurais importantes para a memória operacional, visual e espacial, fundamentais para o desempenho escolar, cotidiano e autonomia funcional.
5. Expressão Emocional e Saúde Mental
Colorir é um veículo seguro para expressão afetiva, mesmo para pessoas com dificuldades de comunicação verbal. As cores escolhidas, os padrões e a intensidade do preenchimento podem refletir estados emocionais e funcionar como forma de autorregulação, promovendo autoconhecimento, autoestima e bem-estar【3】.
6. Aplicações Práticas na Neuropsicologia
Na infância: Desenvolvimento de habilidades escolares, regulação do comportamento e aumento da tolerância à frustração.
Na vida adulta: Alívio do estresse, pausa mental criativa e prevenção de sobrecarga emocional.
Na terceira idade: Prevenção de declínio cognitivo, manutenção da independência funcional e socialização em grupos terapêuticos.
Conclusão
Colorir e pintar são atividades que vão muito além do entretenimento. Seu impacto neuropsicológico abrange o desenvolvimento, manutenção e reabilitação das funções cognitivas, executivas, memória e saúde mental, representando uma estratégia acessível, inclusiva e eficaz para todas as idades. Incentivar o uso dessas práticas — tanto de forma tradicional quanto digital — pode fazer parte de protocolos de intervenção e promoção do bem-estar em diversos contextos clínicos e educacionais.
Referências
Curry, N. A., & Kasser, T. (2005). Can coloring mandalas reduce anxiety? Art Therapy, 22(2), 81–85.
Kaimal, G., Ray, K., & Muniz, J. (2016). Reduction of Cortisol Levels and Participants’ Responses Following Art Making. Art Therapy, 33(2), 74–80.
Dazzi, F., Pedrabissi, L., & Calliari, P. (2019). Art therapy in neuropsychological rehabilitation. Neuropsychological Rehabilitation, 29(9), 1380–1398.
Diamond, A. (2013). Executive functions. Annual Review of Psychology, 64, 135–168.
Brondino, N., et al. (2018). The Role of Art Therapy in the Treatment of Chronic Diseases: A Review of Literature. Complementary Therapies in Medicine, 37, 1-6.
PSICÓLOGA & NEUROPSICÓLOGA
CRP 06/76313