ESTUDO DE CASO: FUNCIONÁRIO X
O presente estudo de caso tem por objetivo ilustrar a complexidade das doenças mentais relacionadas ao trabalho, enfatizando o valor do olhar multidisciplinar, do registro de heterorrelatos e do rigor pericial para a compreensão e a resolução de quadros de sofrimento psíquico persistente.
Resumo Clínico e Contexto Laboral
Trata-se do Funcionário X, bancário de 50 anos, concursado, com 20 anos de serviço no mesmo banco, cuja trajetória funcional foi marcada por episódios reiterados de bullying e cyberbullying, sobretudo em grupos de WhatsApp institucionais. Desde o início, foi alvo de retaliações e rumores infundados, motivados pela suposta ligação de parentesco com um funcionário de alto cargo, alimentando ambiente tóxico e hostil, em especial no setor de caixas.
Ao longo do tempo, sucessivos diagnósticos médicos foram documentados e respaldados por laudos especializados: Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) após cinco anos de função, fibromialgia após sete anos, múltiplos afastamentos por Burnout e crises de ansiedade ao completar doze anos de trabalho, culminando, aos dezenove anos de casa, com diagnóstico de TEPT Complexo (TEPT-C).
Diante da cronicidade do sofrimento, o próprio plano de saúde indicou avaliação neuropsicológica. O laudo apontou prejuízo importante nas funções cognitivas, emocionais e adaptativas, estabelecendo o nexo causal entre a exposição prolongada ao ambiente organizacional nocivo e o quadro clínico apresentado.
O Valor do Heterorrelato e da Prova Pericial
A investigação sobre o caso não se esgotou nos autos médicos, sendo enriquecida por relatos de diferentes profissionais e setores, compondo um mosaico pericial robusto, onde cada área contribuiu com informações específicas e relevantes:
Psicólogos e Neuropsicólogos: registraram avaliações detalhadas sobre sofrimento psíquico, capacidade adaptativa, impacto do ambiente e indicaram intervenções baseadas em evidências científicas.
Médicos do Trabalho, Clínicos, Psiquiatras, Neurologistas e Reumatologistas: forneceram laudos complementares atestando diagnóstico, cronicidade e limitações laborais, além de documentar o histórico dos afastamentos.
Serviços de Engenharia de Segurança (SESMT), Gestão de Pessoas (GEPES), Diretoria de Pessoas (DIPES) e Recursos Humanos: relataram tentativas de mediação, propostas de realocação, registros de reuniões, recomendações não implementadas e indicadores de clima organizacional.
Advogados Trabalhistas e Previdenciários: contextualizaram a evolução jurídica do caso, pontuaram omissões institucionais e defenderam direitos à saúde e dignidade no trabalho.
Promotores de Justiça, Procuradores e Magistrados: integraram os autos com manifestações, recomendações e decisões pautadas em provas técnicas e relatórios multiprofissionais.
Este conjunto de heterorrelatos, de origem técnica, administrativa e judicial, compôs uma prova pericial multidimensional, crucial para elucidar a complexidade do adoecimento relacionado ao trabalho e subsidiar medidas de prevenção, reparação e promoção de saúde mental.
NR-1 e a Responsabilidade Institucional
A análise deste caso destaca a importância da NR-1 (Norma Regulamentadora n.º 1) e demais legislações que garantem proteção à saúde do trabalhador, reforçando a obrigação institucional de prevenir riscos psicossociais, promover ambientes seguros e acolhedores, e agir diante de relatos de degradação laboral.
A persistência do quadro do Funcionário X, mesmo diante de reiteradas recomendações para transferência e realocação, revela falhas no cumprimento das obrigações legais e éticas das organizações.
Role-Play: Simulação Interdisciplinar como Ferramenta de Consciência e Transformação
Com o objetivo de sensibilizar, formar e capacitar profissionais, gestores e operadores do direito sobre a multiplicidade de fatores envolvidos em quadros de adoecimento laboral, desenvolvemos uma série de Role-Plays Interativos, que colocam cada profissional em seu contexto de atuação — seja isoladamente, seja em equipes interdisciplinares.
Cada simulação propõe desafios éticos, científicos, jurídicos e práticos, com ramificações, feedback pericial e contextualização baseada em evidências. O objetivo é não apenas demonstrar o valor do registro multiprofissional (heterorrelato), mas também ampliar a compreensão das redes institucionais envolvidas na proteção e promoção da saúde mental do trabalhador.
Conclusão
O caso do Funcionário X transcende o sofrimento individual, representando, na verdade, a urgência de integração entre áreas, a valorização da prova técnica multidisciplinar e a aplicação efetiva das políticas de saúde no ambiente corporativo.
Que cada Role-Play seja um convite ao compromisso ético, científico e humano com a justiça e o bem-estar no trabalho.