Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) — Conceito, Clínica, Epidemiologia e Psicobiologia
Artigo técnico com rigor científico, baseado em CID-11 e DSM-5-TR, com comparativos, linha do tempo e recursos visuais acessíveis. Docente de referência: Prof. Dr. Lucas Marques Gandarela (AMBAN/IPq-FMUSP).
1) Introdução e Conceito
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) caracteriza-se por preocupação excessiva e dificuldade de controle, acompanhadas de sintomas somáticos (tensão muscular, inquietação, fadiga, irritabilidade, perturbação do sono) e prejuízo funcional.
No DSM-5-TR, os critérios exigem duração de ≥ 6 meses na maioria dos dias, com ≥ 3 sintomas físicos/psicológicos (≥ 1 em crianças). A CID-11 (código 6B00) descreve preocupação persistente, sintomas de ansiedade e prejuízo, com abordagem dimensional nas diretrizes clínicas.
Infográfico — Núcleo Clínico do TAG
Preocupação Excessiva
ruminaçãoFluxo cognitivo persistente e difuso, difícil de controlar.
Hiperativação
fisiologiaTensão muscular, inquietação, fadiga, sono não reparador.
Prejuízo Funcional
impactoCompromete atenção, produtividade, relações e qualidade de vida.
2) Histórico e Evolução Diagnóstica
Do guarda-chuva das “neuroses” (DSM-I/II) à virada categorial do DSM-III (1980), os transtornos ansiosos ganharam definição operacional. O DSM-5 (2013) reorganiza capítulos e separa TOC/TEPT; o DSM-5-TR (2022) atualiza texto, exemplos culturais e clarifica duração/impacto. A CID-11 (2019/2022) estrutura o capítulo 6B0 com foco em descrições clínicas e diretrizes.
3) Características Clínicas e Diagnóstico
Critérios nucleares
- Preocupação excessiva, por ≥ 6 meses, em múltiplos domínios.
- Dificuldade de controlar a preocupação.
- ≥ 3 sintomas: inquietação/alerta, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, alteração do sono (≥ 1 em crianças).
- Sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo.
Diagnóstico diferencial (foco em TAG)
- Transtorno de Pânico / Agorafobia: crises abruptas com pico em minutos e ansiedade antecipatória; na agorafobia o foco é o contexto (fuga/ajuda difícil).
- TOC: obsessões/compulsões egodistônicas e ritualização (núcleo distinto da “preocupação difusa” do TAG).
- Ansiedade de doença (antiga hipocondria): preocupação específica com saúde/doença, checagens repetidas.
- TEPT: relação temporal clara com evento traumático e reexperiência/hiperalerta característicos.
- Transtornos de adaptação: sintomas ansiosos contextuais e autolimitados a um estressor identificável.
- Depressão: ruminação pessimista predominante, anedonia e humor deprimido sustentado (comorbidade é comum, mas o núcleo clínico difere).
- Condições médicas: hipertireoidismo, arritmias, asma/DPOC, dor crônica, deficiência de B12, feocromocitoma.
- Substâncias: cafeína, estimulantes, descongestionantes, abstinência de sedativos/álcool.
Use entrevista estruturada e rastreios (p.ex., GAD-7) para triagem e follow-up. Exclua causas médicas e efeitos de substâncias antes de confirmar TAG.
4) Epidemiologia e Curso
Prevalência & início
- Prevalência 12 meses ~3–5% (varia por estudo/país).
- Início gradual, curso crônico-flutuante.
- Maior em mulheres; alto uso de serviços de saúde.
Comorbidades & impacto
Alta coocorrência com depressão, outros transtornos de ansiedade, dor crônica e condições clínicas; impacto significativo em produtividade, sono e qualidade de vida.
5) Psicobiologia do TAG
O TAG envolve hiperatividade de redes do salience/medo (amígdala–ínsula) e alterações de controle top-down (córtex pré-frontal/ACC), com viés atencional para ameaça, previsão negativa e evitação cognitiva. O eixo HPA e sistemas GABA/5-HT/NE participam da hiperexcitação. Pesquisas translacionais brasileiras (p.ex., de Lucas M. Gandarela) exploram marcadores inflamatórios e respostas a intervenções com mindfulness/aceitação como ponte entre clínica e biomarcadores.
6) Intervenção Baseada em Evidências
Terapias psicológicas
- TCC: psicoeducação, monitoramento de preocupações, exposição a preocupações, reestruturação cognitiva.
- Treino de relaxamento e técnicas somáticas para tensão muscular/sono.
- ACT/Mindfulness: desfusão, aceitação, clarificação de valores (boa evidência para TAG).
Cuidados integrados
- Avaliar e manejar comorbidades (depressão, uso de substâncias, dor crônica).
- Higiene do sono, atividade física, rotinas de recuperação.
- Alinhamento com atenção primária e protocolos locais.
Plano de segurança e acompanhamento longitudinal reduzem recaídas e uso não planejado de serviços.
7) Quadros de Apoio — TAG vs. outros transtornos
Domínio | TAG | Pânico/Agorafobia | Transtorno Obsessivo-Compulsivo |
---|---|---|---|
Foco principal | Preocupações difusas, múltiplos temas. | Ataques de pânico inesperados + evitação/segurança; contexto de fuga/ajuda difícil. | Obsessões egodistônicas e rituais compulsivos. |
Curso | Crônico-flutuante, início gradual. | Episódico com ansiedade antecipatória ou evitação situacional. | Persistente; agravado por evitação e ritualização. |
Sintomas somáticos | Tensão muscular, fadiga, sono, irritabilidade. | Sintomas autonômicos marcantes nos ataques. | Ansiedade marcada ao resistir a rituais; fadiga mental. |
8) Códigos — CID-10 × CID-11 × DSM-5-TR
Transtorno | CID-10 | CID-11 | DSM-5-TR (Português) |
---|---|---|---|
TAG | F41.1 | 6B00 | Transtorno de Ansiedade Generalizada |
Transtorno de Pânico | F41.0 | 6B01 | Transtorno de Pânico |
Agorafobia | F40.0 | 6B02 | Agorafobia |
Fobias Específicas | F40.2 | 6B04 | Fobia Específica |
Outros / NE | F41.9 | 6B0Y / 6B0Z | Outros / Não especificados |
9) Linha do Tempo — TAG nas classificações
DSM — evolução
Detalhes
Critérios operacionais para ansiedade; melhora da confiabilidade diagnóstica.
Detalhes
Ajustes nos critérios e especificadores; padronização de pesquisa.
Detalhes
Separação de TOC/TEPT; TAG permanece com foco em preocupação.
Detalhes
Atualizações de linguagem, exemplos culturais, ênfase em duração/impacto.
Conclusão
O TAG é um fenótipo de ansiedade sustentada, com preocupação difusa, hiperativação somática e prejuízo. A convergência CID-11/DSM-5-TR facilita decisões clínicas; intervenções psicológicas (TCC, ACT/Mindfulness) e cuidados integrados reduzem a carga e melhoram funcionamento. Pesquisas translacionais nacionais, como as de Lucas M. Gandarela, conectam clínica, biomarcadores e desfechos.
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Referências (seleção educativa)
- CID-11: capítulo 6B0 — 6B00 (Transtorno de Ansiedade Generalizada).
- DSM-5-TR: critérios do Transtorno de Ansiedade Generalizada.
- Revisões nacionais sobre histórico, clínica e classificações dos transtornos de ansiedade.
- Gandarela LM — linhas de pesquisa translacional (marcadores inflamatórios e intervenções baseadas em mindfulness/aceitação).
Para uso clínico, consulte diretamente os manuais oficiais (CID-11/DSM-5-TR) e protocolos locais.