artigo Cleptomania

Cleptomania: Guia Científico Completo – Diagnóstico, Neurociência, Tratamento e Experiência Real

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Entenda tudo sobre cleptomania: o que é, sintomas, diagnóstico diferencial, tratamento, causas, comorbidades e impactos emocionais e sociais. Guia científico atualizado, baseado em casos reais, com FAQ, estudo de caso e recursos para pacientes e profissionais. Experimente nossa simulação clínica interativa e amplie seu conhecimento!

Índice

  1. O que é Cleptomania?

  2. Histórico, Conceito e Origem

  3. Critérios Diagnósticos: CID-11 e DSM-5-TR

  4. Perfil Clínico: Quem é a Pessoa com Cleptomania?

  5. Neurociência: Impulsividade, Circuito de Recompensa e Vício

  6. Fatores de Risco, Causas e Epidemiologia

  7. Diagnóstico Diferencial

  8. Consequências e Impactos Psicossociais

  9. Estudo de Caso Real: Luiz, 42 anos

  10. Tratamento: Psicoterapia, Psiquiatria e Grupos

  11. Prognóstico, Prevenção e Reabilitação

  12. Perguntas Frequentes (FAQ)

  13. Leia Mais e Recursos Interativos

  14. Referências Científicas

  15. Sobre a Autora

1. O que é Cleptomania?

Cleptomania é um transtorno do controle dos impulsos caracterizado por furtos recorrentes e irresistíveis de objetos, geralmente sem necessidade pessoal ou valor real. A pessoa sente uma tensão crescente antes do ato, seguido de prazer, alívio ou gratificação ao furtar, e posteriormente culpa, ansiedade ou arrependimento.

O comportamento não visa ganho financeiro ou vingança, nem ocorre como parte de um quadro psicótico ou de personalidade antissocial. A cleptomania é uma condição clínica reconhecida internacionalmente pelo CID-11 e DSM-5-TR.

2. Histórico, Conceito e Origem

O termo “cleptomania” surge no século XIX, associado ao conceito de monomania instintiva. Psiquiatras como Jean-Étienne Esquirol e obras como “The Insane Kleptomaniac” (1820, Géricault) já descreviam o impulso de furtar como um fenômeno distinto do crime comum.
A cleptomania é atualmente classificada como transtorno do controle dos impulsos, sendo estudada por equipes multiprofissionais em todo o mundo.

3. Critérios Diagnósticos: CID-11 e DSM-5-TR

CID-11 (6C70 – Transtorno do Controle dos Impulsos, especificado):

  • Falha repetida em resistir a impulsos de roubar objetos que não são necessários para uso pessoal ou por seu valor monetário.

  • Sensação crescente de tensão imediatamente antes do ato.

  • Sensação de satisfação, gratificação ou alívio durante e imediatamente após.

  • Não é motivado por raiva, vingança, delírio ou alucinação.

  • Não é melhor explicado por outros transtornos (transtorno de conduta, episódio maníaco, personalidade antissocial).

DSM-5-TR (312.32):

  • A. Falha recorrente em resistir aos impulsos de roubar objetos desnecessários para uso pessoal ou valor monetário.

  • B. Sensação crescente de tensão imediatamente antes do furto.

  • C. Prazer, gratificação ou alívio no ato de furtar.

  • D. Não ocorre por raiva ou vingança, nem por delírio/alucinação.

  • E. Não é explicado por outros transtornos psiquiátricos.

Exemplo Clínico:
O objeto furtado pode ser guardado, presenteado, doado ou descartado. O valor do objeto geralmente não tem importância; o foco está no ato de furtar e no alívio emocional proporcionado.

4. Perfil Clínico: Quem é a Pessoa com Cleptomania?

  • Gênero: afeta ambos, mas há mais mulheres diagnosticadas (relação de até 3:1).

  • Idade de início: geralmente infância ou adolescência, com picos na juventude e idade adulta.

  • Traços emocionais: baixa autoestima, histórico de bullying, abuso sexual ou emocional, sensação de incapacidade ou fracasso, vergonha.

  • Impulsividade: outras compulsões frequentemente associadas (compra, jogo, comida).

  • Gatilhos: estresse, conflitos familiares, sensação de vazio, críticas severas de figuras parentais, ambiente permissivo ou hipercrítico.

O comportamento pode ser mantido em segredo por anos, agravando sofrimento e isolamento social.

5. Neurociência: Impulsividade, Circuito de Recompensa e Vício

Cleptomania compartilha mecanismos neurobiológicos com outros transtornos do impulso e vícios comportamentais:

  • Deficiência de freios emocionais e excesso de propulsão: dificuldade de controle sobre impulsos.

  • Circuito de recompensa mesolímbico-dopaminérgico: furtar gera descarga de dopamina no cérebro, produzindo sensação de prazer imediato, seguida de arrependimento ou culpa.

  • Efeito tolerância: com o tempo, há necessidade de furtar objetos mais caros, diferentes ou em maior quantidade para obter o mesmo alívio (semelhante ao vício químico).

  • Pensamentos automáticos: “eu não consigo evitar”, “só mais uma vez”, “ninguém vai perceber”.

6. Fatores de Risco, Causas e Epidemiologia

Fatores de risco:

  • Histórico familiar de impulsividade, dependência química, abuso.

  • Baixa autoestima, traumas na infância, abusos (inclusive sexual).

  • Estresse crônico, ambiente familiar crítico ou negligente.

  • Comorbidades psiquiátricas (depressão, ansiedade, TOC, bipolaridade).

  • Abuso de álcool ou outras substâncias.

Causas:

  • Multifatoriais: combinação de vulnerabilidades genéticas, fatores ambientais e alterações neuroquímicas.

  • Disfunção dos circuitos de autocontrole emocional.

Epidemiologia:

  • Prevalência estimada de 0,3% a 0,6% na população geral (pode ser maior em populações clínicas).

  • Maior incidência em adolescentes e adultos jovens.

  • Entre pacientes psiquiátricos, chega a 7,8%.

Estudos mostram que até 28,9% das pessoas já praticaram furto alguma vez na vida, mas poucos desenvolvem o transtorno completo.

7. Diagnóstico Diferencial

A cleptomania deve ser diferenciada de:

  • Furto comum: motivado por necessidade, ganho, vingança ou crime organizado.

  • Transtorno de conduta/antissocial: inclui outros comportamentos ilegais e agressivos.

  • Episódio maníaco (transtorno bipolar): compras e furtos excessivos associados a humor elevado.

  • Demência precoce: comportamentos desinibidos devido a alteração cognitiva.

  • Simulação: finge sintomas para obter benefício.

  • Comorbidades: TOC, depressão, transtornos alimentares.

Importante:
O furto na cleptomania é solitário, sem cúmplices, e ocorre mesmo com risco de consequências graves. O ciclo é repetido mesmo diante de vergonha e arrependimento.

8. Consequências e Impactos Psicossociais

A cleptomania pode causar:

  • Processos legais, prisão, fichamento criminal.

  • Perda de emprego, prejuízo financeiro e social.

  • Ruptura de relacionamentos, isolamento e rejeição.

  • Baixa autoestima, depressão, ansiedade, risco de suicídio.

  • Sintomas físicos associados ao estresse (insônia, adoecimento físico).

  • Ciclo de arrependimento, vergonha, promessas de mudança não cumpridas.

Em geral, as consequências não impedem a repetição do ciclo sem tratamento específico. Muitas pessoas demoram 10 a 20 anos para buscar ajuda, frequentemente após serem flagradas ou diante de consequências irreversíveis.

9. Estudo de Caso Real: Luiz, 42 anos

História clínica

  • Primeiros furtos: aos 10 anos, flagrado aos 15, levado à delegacia.

  • Interrupção e retorno: parou após o trauma inicial, mas retomou o comportamento aos 30 anos, já gerente de banco, sob estresse intenso.

  • Evolução: começou com pequenos objetos, logo passou a furtar itens mais caros, guardando, colecionando, doando ou usando.

  • Pico do transtorno: furtos diários, em horários de intervalo no trabalho, aumento progressivo da frequência e valor dos itens (efeito tolerância).

  • Consequências: flagrado novamente, sendo processado, esconde dos familiares, sofrimento intenso.

Contexto emocional

  • Abuso sexual aos 7 anos, mãe crítica, pai ausente, bullying e sentimento de incapacidade.

  • Diagnóstico de hipertensão, diabetes, angina.

  • Parceria estável há 15 anos (sem revelação do transtorno).

Tratamento

  • Início de tratamento psiquiátrico (naltrexona, venlafaxina, amitriptilina).

  • Abandono inicial das sessões, recaídas frequentes, vergonha.

  • Retorno ao tratamento, adesão à terapia em grupo e ao uso regular de medicação.

  • Resultado: 4 anos sem furtar após adesão consistente ao tratamento, mudança de ambiente profissional e apoio emocional.

Referência: Caso real, Drs. Christianini, Freire, Tavares, 2021.

10. Tratamento: Psicoterapia, Psiquiatria e Grupos

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):

  • Psicoeducação sobre o ciclo do impulso

  • Identificação de gatilhos, pensamentos automáticos e comportamentos de risco

  • Registro de situações e sentimentos

  • Treinamento de autocontrole, enfrentamento e prevenção de recaídas

  • Sessões em grupo podem aumentar a adesão e motivação

  • Abordagem não punitiva: vínculo sem crítica ou julgamento, aceitação e motivação

Tratamento Medicamentoso:

  • Uso de naltrexona (antagonista opióide) para redução do impulso

  • Antidepressivos (venlafaxina, amitriptilina)

  • Importante tratar comorbidades (depressão, ansiedade, bipolaridade)

Apoio Familiar e Grupos:

  • Participação da família e apoio social são fundamentais para adesão e prevenção de recaídas

  • Grupos de autoajuda (presenciais ou online)

Evolução:
Com tratamento, é possível obter longos períodos de remissão. O suporte terapêutico e farmacológico deve ser individualizado e contínuo, ajustando-se às recaídas e desafios do paciente.

11. Prognóstico, Prevenção e Reabilitação

  • O prognóstico melhora com diagnóstico precoce, adesão ao tratamento, suporte familiar e psicológico.

  • O curso pode ser crônico, com recaídas (especialmente diante de estresse, perdas, mudanças).

  • Educação emocional, psicoeducação e desenvolvimento de habilidades de autocontrole são essenciais na prevenção e manutenção dos ganhos.

  • Reabilitação cognitiva e emocional: técnicas para fortalecer o autocontrole, evitar recaídas e promover autonomia.

A cleptomania não é “falta de caráter” ou “má índole”, mas um transtorno real, complexo e tratável. Procurar ajuda é um ato de coragem e maturidade emocional.

12. Perguntas Frequentes (FAQ)

Cleptomania é crime ou doença?
Cleptomania é uma doença psiquiátrica reconhecida, mas o ato de furtar é crime perante a lei. O tratamento não elimina a responsabilidade legal, mas pode ser considerado como atenuante em contexto judicial.

Quem tem cleptomania sempre foi desonesto?
Não. Pessoas com cleptomania sofrem com impulsos que não conseguem controlar e geralmente sentem culpa, vergonha e sofrimento.

A cleptomania tem cura?
O foco é o controle dos sintomas e a prevenção de recaídas. Com tratamento adequado, é possível obter remissão prolongada e reestruturação de vida.

Só medicamentos resolvem?
Não. O melhor resultado ocorre com combinação de terapia cognitivo-comportamental, suporte social e, se indicado, uso de medicamentos.

A pessoa pode evitar se quiser?
O impulso é muitas vezes irresistível. A força de vontade sozinha não basta; apoio profissional é fundamental.

Quando procurar ajuda?
Ao perceber prejuízo, sofrimento emocional ou recorrência do comportamento, procure psicólogo e/ou psiquiatra especializados em transtornos do impulso.

Cleptomania é frequente?
É considerada rara, mas subdiagnosticada. Muitos casos nunca chegam ao consultório, por vergonha ou medo de punição.

13. Leia Mais e Recursos Interativos

14. Referências Científicas

  • Christianini, A. R. (2021). Avaliação psicológica do caso clínico Cleptomania.

  • Freire, R. N. (2021). Avaliação psiquiátrica do caso clínico Cleptomania.

  • Tavares, H. (2021). Caso clínico Cleptomania.

  • American Psychiatric Association. DSM-5-TR, 2022.

  • World Health Organization. CID-11, 2018.

  • Grant, J. E., & Odlaug, B. L. (2008). Clinical characteristics of kleptomania. CNS Spectrums.

  • McElroy, S. L., et al. (1991, 1994). Kleptomania: clinical characteristics, comorbidity, and etiology. Journal of Clinical Psychiatry.

Todos os casos e citações foram extraídos de arquivos reais, utilizados sob autorização para fins científicos e educativos.

15. Sobre a Autora

Juliana Galhardi Martins
Psicóloga & Neuropsicóloga | CRP 06/76313
Especialista em avaliação, diagnóstico e reabilitação de transtornos do impulso e neurodivergências. Autora de experiências clínicas interativas e projetos de psicoeducação reconhecidos nacionalmente.


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Cleptomania tem tratamento. Buscar ajuda é coragem e ciência.


Conteúdo inédito, autorizado para publicação no site de Juliana Galhardi Martins. Para reproduzir, cite a fonte e valorize o conhecimento científico.

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