Cleptomania: Guia Científico Completo – Diagnóstico, Neurociência, Tratamento e Experiência Real
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Entenda tudo sobre cleptomania: o que é, sintomas, diagnóstico diferencial, tratamento, causas, comorbidades e impactos emocionais e sociais. Guia científico atualizado, baseado em casos reais, com FAQ, estudo de caso e recursos para pacientes e profissionais. Experimente nossa simulação clínica interativa e amplie seu conhecimento!
Índice
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O que é Cleptomania?
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Histórico, Conceito e Origem
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Critérios Diagnósticos: CID-11 e DSM-5-TR
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Perfil Clínico: Quem é a Pessoa com Cleptomania?
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Neurociência: Impulsividade, Circuito de Recompensa e Vício
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Fatores de Risco, Causas e Epidemiologia
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Diagnóstico Diferencial
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Consequências e Impactos Psicossociais
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Estudo de Caso Real: Luiz, 42 anos
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Tratamento: Psicoterapia, Psiquiatria e Grupos
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Prognóstico, Prevenção e Reabilitação
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Perguntas Frequentes (FAQ)
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Leia Mais e Recursos Interativos
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Referências Científicas
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Sobre a Autora
1. O que é Cleptomania?
Cleptomania é um transtorno do controle dos impulsos caracterizado por furtos recorrentes e irresistíveis de objetos, geralmente sem necessidade pessoal ou valor real. A pessoa sente uma tensão crescente antes do ato, seguido de prazer, alívio ou gratificação ao furtar, e posteriormente culpa, ansiedade ou arrependimento.
O comportamento não visa ganho financeiro ou vingança, nem ocorre como parte de um quadro psicótico ou de personalidade antissocial. A cleptomania é uma condição clínica reconhecida internacionalmente pelo CID-11 e DSM-5-TR.
2. Histórico, Conceito e Origem
O termo “cleptomania” surge no século XIX, associado ao conceito de monomania instintiva. Psiquiatras como Jean-Étienne Esquirol e obras como “The Insane Kleptomaniac” (1820, Géricault) já descreviam o impulso de furtar como um fenômeno distinto do crime comum.
A cleptomania é atualmente classificada como transtorno do controle dos impulsos, sendo estudada por equipes multiprofissionais em todo o mundo.
3. Critérios Diagnósticos: CID-11 e DSM-5-TR
CID-11 (6C70 – Transtorno do Controle dos Impulsos, especificado):
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Falha repetida em resistir a impulsos de roubar objetos que não são necessários para uso pessoal ou por seu valor monetário.
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Sensação crescente de tensão imediatamente antes do ato.
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Sensação de satisfação, gratificação ou alívio durante e imediatamente após.
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Não é motivado por raiva, vingança, delírio ou alucinação.
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Não é melhor explicado por outros transtornos (transtorno de conduta, episódio maníaco, personalidade antissocial).
DSM-5-TR (312.32):
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A. Falha recorrente em resistir aos impulsos de roubar objetos desnecessários para uso pessoal ou valor monetário.
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B. Sensação crescente de tensão imediatamente antes do furto.
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C. Prazer, gratificação ou alívio no ato de furtar.
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D. Não ocorre por raiva ou vingança, nem por delírio/alucinação.
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E. Não é explicado por outros transtornos psiquiátricos.
Exemplo Clínico:
O objeto furtado pode ser guardado, presenteado, doado ou descartado. O valor do objeto geralmente não tem importância; o foco está no ato de furtar e no alívio emocional proporcionado.
4. Perfil Clínico: Quem é a Pessoa com Cleptomania?
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Gênero: afeta ambos, mas há mais mulheres diagnosticadas (relação de até 3:1).
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Idade de início: geralmente infância ou adolescência, com picos na juventude e idade adulta.
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Traços emocionais: baixa autoestima, histórico de bullying, abuso sexual ou emocional, sensação de incapacidade ou fracasso, vergonha.
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Impulsividade: outras compulsões frequentemente associadas (compra, jogo, comida).
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Gatilhos: estresse, conflitos familiares, sensação de vazio, críticas severas de figuras parentais, ambiente permissivo ou hipercrítico.
O comportamento pode ser mantido em segredo por anos, agravando sofrimento e isolamento social.
5. Neurociência: Impulsividade, Circuito de Recompensa e Vício
Cleptomania compartilha mecanismos neurobiológicos com outros transtornos do impulso e vícios comportamentais:
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Deficiência de freios emocionais e excesso de propulsão: dificuldade de controle sobre impulsos.
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Circuito de recompensa mesolímbico-dopaminérgico: furtar gera descarga de dopamina no cérebro, produzindo sensação de prazer imediato, seguida de arrependimento ou culpa.
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Efeito tolerância: com o tempo, há necessidade de furtar objetos mais caros, diferentes ou em maior quantidade para obter o mesmo alívio (semelhante ao vício químico).
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Pensamentos automáticos: “eu não consigo evitar”, “só mais uma vez”, “ninguém vai perceber”.
6. Fatores de Risco, Causas e Epidemiologia
Fatores de risco:
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Histórico familiar de impulsividade, dependência química, abuso.
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Baixa autoestima, traumas na infância, abusos (inclusive sexual).
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Estresse crônico, ambiente familiar crítico ou negligente.
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Comorbidades psiquiátricas (depressão, ansiedade, TOC, bipolaridade).
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Abuso de álcool ou outras substâncias.
Causas:
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Multifatoriais: combinação de vulnerabilidades genéticas, fatores ambientais e alterações neuroquímicas.
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Disfunção dos circuitos de autocontrole emocional.
Epidemiologia:
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Prevalência estimada de 0,3% a 0,6% na população geral (pode ser maior em populações clínicas).
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Maior incidência em adolescentes e adultos jovens.
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Entre pacientes psiquiátricos, chega a 7,8%.
Estudos mostram que até 28,9% das pessoas já praticaram furto alguma vez na vida, mas poucos desenvolvem o transtorno completo.
7. Diagnóstico Diferencial
A cleptomania deve ser diferenciada de:
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Furto comum: motivado por necessidade, ganho, vingança ou crime organizado.
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Transtorno de conduta/antissocial: inclui outros comportamentos ilegais e agressivos.
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Episódio maníaco (transtorno bipolar): compras e furtos excessivos associados a humor elevado.
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Demência precoce: comportamentos desinibidos devido a alteração cognitiva.
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Simulação: finge sintomas para obter benefício.
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Comorbidades: TOC, depressão, transtornos alimentares.
Importante:
O furto na cleptomania é solitário, sem cúmplices, e ocorre mesmo com risco de consequências graves. O ciclo é repetido mesmo diante de vergonha e arrependimento.
8. Consequências e Impactos Psicossociais
A cleptomania pode causar:
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Processos legais, prisão, fichamento criminal.
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Perda de emprego, prejuízo financeiro e social.
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Ruptura de relacionamentos, isolamento e rejeição.
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Baixa autoestima, depressão, ansiedade, risco de suicídio.
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Sintomas físicos associados ao estresse (insônia, adoecimento físico).
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Ciclo de arrependimento, vergonha, promessas de mudança não cumpridas.
Em geral, as consequências não impedem a repetição do ciclo sem tratamento específico. Muitas pessoas demoram 10 a 20 anos para buscar ajuda, frequentemente após serem flagradas ou diante de consequências irreversíveis.
9. Estudo de Caso Real: Luiz, 42 anos
História clínica
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Primeiros furtos: aos 10 anos, flagrado aos 15, levado à delegacia.
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Interrupção e retorno: parou após o trauma inicial, mas retomou o comportamento aos 30 anos, já gerente de banco, sob estresse intenso.
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Evolução: começou com pequenos objetos, logo passou a furtar itens mais caros, guardando, colecionando, doando ou usando.
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Pico do transtorno: furtos diários, em horários de intervalo no trabalho, aumento progressivo da frequência e valor dos itens (efeito tolerância).
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Consequências: flagrado novamente, sendo processado, esconde dos familiares, sofrimento intenso.
Contexto emocional
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Abuso sexual aos 7 anos, mãe crítica, pai ausente, bullying e sentimento de incapacidade.
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Diagnóstico de hipertensão, diabetes, angina.
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Parceria estável há 15 anos (sem revelação do transtorno).
Tratamento
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Início de tratamento psiquiátrico (naltrexona, venlafaxina, amitriptilina).
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Abandono inicial das sessões, recaídas frequentes, vergonha.
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Retorno ao tratamento, adesão à terapia em grupo e ao uso regular de medicação.
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Resultado: 4 anos sem furtar após adesão consistente ao tratamento, mudança de ambiente profissional e apoio emocional.
Referência: Caso real, Drs. Christianini, Freire, Tavares, 2021.
10. Tratamento: Psicoterapia, Psiquiatria e Grupos
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):
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Psicoeducação sobre o ciclo do impulso
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Identificação de gatilhos, pensamentos automáticos e comportamentos de risco
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Registro de situações e sentimentos
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Treinamento de autocontrole, enfrentamento e prevenção de recaídas
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Sessões em grupo podem aumentar a adesão e motivação
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Abordagem não punitiva: vínculo sem crítica ou julgamento, aceitação e motivação
Tratamento Medicamentoso:
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Uso de naltrexona (antagonista opióide) para redução do impulso
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Antidepressivos (venlafaxina, amitriptilina)
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Importante tratar comorbidades (depressão, ansiedade, bipolaridade)
Apoio Familiar e Grupos:
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Participação da família e apoio social são fundamentais para adesão e prevenção de recaídas
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Grupos de autoajuda (presenciais ou online)
Evolução:
Com tratamento, é possível obter longos períodos de remissão. O suporte terapêutico e farmacológico deve ser individualizado e contínuo, ajustando-se às recaídas e desafios do paciente.
11. Prognóstico, Prevenção e Reabilitação
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O prognóstico melhora com diagnóstico precoce, adesão ao tratamento, suporte familiar e psicológico.
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O curso pode ser crônico, com recaídas (especialmente diante de estresse, perdas, mudanças).
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Educação emocional, psicoeducação e desenvolvimento de habilidades de autocontrole são essenciais na prevenção e manutenção dos ganhos.
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Reabilitação cognitiva e emocional: técnicas para fortalecer o autocontrole, evitar recaídas e promover autonomia.
A cleptomania não é “falta de caráter” ou “má índole”, mas um transtorno real, complexo e tratável. Procurar ajuda é um ato de coragem e maturidade emocional.
12. Perguntas Frequentes (FAQ)
Cleptomania é crime ou doença?
Cleptomania é uma doença psiquiátrica reconhecida, mas o ato de furtar é crime perante a lei. O tratamento não elimina a responsabilidade legal, mas pode ser considerado como atenuante em contexto judicial.
Quem tem cleptomania sempre foi desonesto?
Não. Pessoas com cleptomania sofrem com impulsos que não conseguem controlar e geralmente sentem culpa, vergonha e sofrimento.
A cleptomania tem cura?
O foco é o controle dos sintomas e a prevenção de recaídas. Com tratamento adequado, é possível obter remissão prolongada e reestruturação de vida.
Só medicamentos resolvem?
Não. O melhor resultado ocorre com combinação de terapia cognitivo-comportamental, suporte social e, se indicado, uso de medicamentos.
A pessoa pode evitar se quiser?
O impulso é muitas vezes irresistível. A força de vontade sozinha não basta; apoio profissional é fundamental.
Quando procurar ajuda?
Ao perceber prejuízo, sofrimento emocional ou recorrência do comportamento, procure psicólogo e/ou psiquiatra especializados em transtornos do impulso.
Cleptomania é frequente?
É considerada rara, mas subdiagnosticada. Muitos casos nunca chegam ao consultório, por vergonha ou medo de punição.
13. Leia Mais e Recursos Interativos
14. Referências Científicas
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Christianini, A. R. (2021). Avaliação psicológica do caso clínico Cleptomania.
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Freire, R. N. (2021). Avaliação psiquiátrica do caso clínico Cleptomania.
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Tavares, H. (2021). Caso clínico Cleptomania.
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American Psychiatric Association. DSM-5-TR, 2022.
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World Health Organization. CID-11, 2018.
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Grant, J. E., & Odlaug, B. L. (2008). Clinical characteristics of kleptomania. CNS Spectrums.
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McElroy, S. L., et al. (1991, 1994). Kleptomania: clinical characteristics, comorbidity, and etiology. Journal of Clinical Psychiatry.
Todos os casos e citações foram extraídos de arquivos reais, utilizados sob autorização para fins científicos e educativos.
15. Sobre a Autora
Juliana Galhardi Martins
Psicóloga & Neuropsicóloga | CRP 06/76313
Especialista em avaliação, diagnóstico e reabilitação de transtornos do impulso e neurodivergências. Autora de experiências clínicas interativas e projetos de psicoeducação reconhecidos nacionalmente.
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Cleptomania tem tratamento. Buscar ajuda é coragem e ciência.
Conteúdo inédito, autorizado para publicação no site de Juliana Galhardi Martins. Para reproduzir, cite a fonte e valorize o conhecimento científico.